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sábado, 16 de outubro de 2010

As 40 Horas de Angicos


No início de 1963, Angicos foi palco de uma experiência que viria a frutificar ideias famosas em todo o mundo, arquitetada por uma das figuras mais marcantes da história da educação brasileira: Paulo Freire. "As 40 horas de Angicos" é como ficou conhecida esta experiência, que teve a ousada pretensão de alfabetizar adultos em apenas 40 horas, lançando mão do chamado método Paulo Freire.

Paulo Freire. Foto: Arquivo do Instituto Paulo Freire

Naquela época, Angicos possuía a assustadora taxa de analfabetismo de 75%!

Aula de alfabetização em Angicos, 1963.
Foto: Arquivo do Instituto Paulo Freire

O método continha em seu cerne o uso de palavras que faziam parte do universo vocabular do alfabetizando. Desta forma, o processo de apreensão do significado e estrutura fonética das palavras seria acelerado. Slides de projeção eram usados para exibir ilustrações relacionadas às palavras. Após o aprendizado das palavras, promovia-se o chamado círculo de cultura, no qual procurava-se discutir o significado do novo vocabulário na realidade social do aluno. Não parava por aí: o método pretendia em sua fase final despertar uma maior consciência e postura mais crítica do indivíduo com relação ao mundo.

Slide usado na experiência de Angicos. Fonte: http://forumeja.org.br/book

Slide usado na experiência de Angicos. Fonte: http://forumeja.org.br/book

As pretensões da experiência despertaram a curiosidade de acadêmicos e da mídia. A iniciativa recebeu apoio do governo do estado e captou recursos da SUDENE e da USAID, uma agência americana criada por John F. Kennedy para financiar programas assistenciais. A repercussão foi tamanha que estiveram presentes em Angicos jornalistas dos principais veículos do Brasil e do mundo. O próprio presidente do Brasil na época, João Goulart, e o então governador do nosso estado, Aluízio Alves, participaram no encerramento das atividades do programa.

Abril de 1963: Paulo Freire fala ao presidente e a políticos da região. Sentados, da esquerda para a direita: Miguel Arraes, Clóvis Mota, Seixas Dória, Virgílio Távora, Aluísio Alves e João Goulart.

A experiência conseguiu realizar o que propôs: alfabetizou 300 pessoas em 40 horas. O sucesso da experiência fez com que o governo de Goulart implantasse o Plano Nacional de Alfabetização, para aplicar o metódo de Paulo Freire, criando 20 mil "círculos de cultura" pelo país, visando alfabetizar milhões de pessoas.

O programa foi interrompido após o golpe militar de 1964. Os que trabalharam na experiência tiveram de silenciar. Paulo Freire foi chamado de "subversivo e ignorante" pelo regime militar, sendo preso e depois exilado.

Nos vídeos abaixo, criados pelo Serviço Cooperativo de Educação do Rio Grande do Norte - SECERN, em 1963, é mostrado o trabalho dos estudantes monitores em Angicos.


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